Existe um consenso quase intuitivo de que estar em contato com a natureza faz bem. Deve ser porque a natureza chegou antes do homem e evoluímos em contato com ela, mesmo que explorando o que ela oferece para a nossa sobrevivência: água, comida, matéria-prima para uma série de coisas que utilizamos na nossa vida. O fato é que o homem precisa da natureza para viver bem. Mesmo os seres mais urbanos, que se realizam nas grandes cidades, em algum momento querem escapar para o meio do mato, uma casa na fazenda, um sítio, chácara, parque ou montanha.
Não é à toa que existe um movimento forte nas cidades de valorizar as áreas verdes, parques, praças e bosques. Não é à toa que ter um apartamento na frente de um parque custa mais caro. Não é à toa que novos empreendimentos lançados em São Paulo já preveem em seus projetos áreas verdes maiores. Não é à toa que os apartamentos possuem varandas enormes (às vezes maiores do que os quartos), onde as pessoas constroem jardins verticais, que sobem pelas paredes. O ser humano precisa da natureza por perto.
E se a intuição nos diz isso, a ciência está ajudando a tornar essa necessidade mais premente. Existem muitos pesquisadores envolvidos na investigação dos benefícios da conexão com a natureza para a saúde. E foi por causa desses benefícios que surgiu, no Japão, o Shinrin-Yoku, ou Banho de Floresta. Segundo a Shinrin-Yoku de Portugal, o conceito foi desenvolvido na década de 1980, como uma extensão das tradições centenárias de incorporar os princípios da natureza na vida diária para tratar os altos níveis de estresse. Porque se as cidades nos trazem inúmeros confortos e benefícios, têm nos trazido também problemas com ansiedade, estresse e depressão.
IMERSÃO
A ideia do Banho de Floresta é fazer uma imersão (que pode ser de horas ou de dias) em uma floresta usando os cinco sentidos, fruindo os momentos, estando presente naquela situação. No Japão, isso é levado tão a sério que existe a certificação de florestas para a prática. Os órgãos certificadores avaliam se o local tem acesso e segurança para as pessoas e, também, condições de oferecer a melhor experiência possível.
Tudo isso porque as pesquisas indicam que essa prática traz benefícios reais aos seres humanos, como reforço do sistema imunológico, com um aumento das células Natural Killer (NK), que combatem infecções e tumores; diminuição da pressão arterial; redução do estresse; melhoria do estado de ânimo; aumento da capacidade de concentração; recuperação acelerada de uma cirurgia ou doença; maior nível de energia e melhoria do sono.
O conceito foi desenvolvido na década de 1980
Em uma cidade como São Paulo, essa prática pode (e deve) ser adaptada para os parques, por exemplo. O importante é estar completamente presente naquele momento. Fazer um “banho de parque” não significa “correr ou fazer exercícios físicos no parque”. Significa explorar aquele ambiente com muita calma e atenção usando os cinco sentidos: tato, olfato, audição, paladar e visão. Durante um banho de parque a pessoa vai, então, prestar atenção na paisagem, observar as cores, as formas, o movimento das plantas, a luz do momento; ouvir os sons da natureza, seja dos bichos, do vento ou da água; tocar as plantas, sentir as texturas e temperaturas; comer o que for possível naquele espaço: frutas, flores, temperos. E nada de levar o celular para fotografar cada momento. A ideia é se conectar com a natureza, não com a tecnologia.
EXPERIÊNCIA CALMANTE
O ideal é incorporar essa atividade na rotina, praticando periodicamente esse ritual de presença e observação. Como natureza é movimento, a pessoa que pratica o banho de parque periodicamente começa a notar as mudanças que o ciclo das estações provoca na paisagem, um fenômeno natural, que precisamos aceitar e observar (qualquer semelhança com alguns acontecimentos da vida não é mera coincidência).
Essa é uma experiência que tem um alto poder calmante porque, afinal, a pessoa desacelera, fica um tempo em silêncio, focada em um exercício de atenção que é também relaxante. É a ideia do mindfulness, ou atenção plena. Na verdade, todas essas práticas convergem para um único objetivo, que é estar presente. E a natureza, com sua fluidez, tem um grande poder de fazer isso acontecer.
Maisa Infante é jornalista e editora do site www.verdesp.com.br